84% dos professores concordam que cursos presenciais formam docentes mais bem preparados para o início da profissão
Parceria entre Todos Pela Educação, Itaú Social, Instituto Península e Profissão Docente, pesquisa de opinião encomendada ao Ipec ouviu mais de 6,7 mil professores de escolas públicas de todo o Brasil sobre temas como valorização profissional, progressão de carreira e papel das secretarias de Educação
Pesquisa de opinião realizada com professores de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio de todo o Brasil mostra que apenas 19% concordam totalmente que os atuais cursos de graduação de Pedagogia e licenciaturas estão preparando bem os docentes para o início da profissão. 84% concordam (53% totalmente e 31% em parte) que cursos presenciais formam docentes melhor preparados – apesar de 6 a cada 10 professores formados no Brasil terem, em 2020, se graduado em cursos a distância. Além disso, 56% dos professores entrevistados afirmam não terem recebido orientação específica em seu primeiro ano de docência, quando estudos demonstram que a curva de aprendizagem é muito mais alta nos cinco primeiros anos de prática.
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Para Gabriel Corrêa, Diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, “a pesquisa reforça, a partir da voz dos próprios professores, a necessidade de melhorias na formação docente, que é uma pauta central para a valorização da profissão e a garantia de uma Educação de qualidade para todos.”
Ele pontua a necessidade de políticas específicas no âmbito federal, de apoio e indução, e nos níveis estaduais e municipais, para a formação continuada dos docentes. “O Ministério da Educação tem, nesse início de gestão, a oportunidade de iniciar um conjunto de políticas para apoiar e induzir avanços nos cursos de pedagogia e licenciaturas. Isso passa, por exemplo, por rever a forma como os cursos são avaliados e fortalecer programas de aproximação dos futuros professores com as escolas públicas, como o Pibid. Cabe, ainda, às secretarias de Educação, investir em boas políticas de formação continuada, buscando o desenvolvimento profissional dos professores ao longo de toda a sua carreira. Os professores iniciantes, por exemplo, precisam de muito mais apoio do que têm recebido”, afirma Corrêa.
A pesquisa, encomendada ao Ipec em parceria do Todos Pela Educação com o Itaú Social, o Instituto Península e o Profissão Docente, ouviu 6.775 professores de escolas de ensino regular da rede pública (municipal e estadual). As entrevistas foram realizadas entre julho e dezembro de 2022 e permitem compreender a percepção dos docentes brasileiros sobre diferentes questões da Educação Básica. Foram explorados temas como a progressão de carreira e a percepção sobre a profissão. Essa pesquisa também permite a leitura independentemente dos resultados no nível estadual, com exceção dos estados de Roraima e Amapá, cujas amostras realizadas não atingiram o tamanho suficiente para garantir a leitura independente dos resultados por estado, mas constam nas leituras pelo total e por região.
Além dos desafios relacionados à formação inicial, outras preocupações são evidenciadas na pesquisa. Apenas 7% dos entrevistados concordam (2% totalmente e 5% em parte) que, no Brasil, os professores são tão valorizados quanto médicos, engenheiros e advogados, e 92% concordam (61% totalmente e 31% em parte) que gostariam de participar mais do desenho de políticas e programas educacionais de sua rede de ensino. Contudo, uma notícia positiva é que a maioria dos entrevistados, se pudesse decidir novamente, ainda escolheria ser professor – cerca de 8 em cada 10 concordam (62% totalmente e 21% em parte) com essa afirmação.
Para Mariana Breim, diretora de políticas educacionais e pesquisa do Instituto Península, “não há quem discorde de que o professor é uma figura muito importante na sociedade. Mas, a valorização pretendida é uma compreensão coletiva de que a carreira precisa ser mais atrativa, com condições de trabalho adequadas e ofertas consistentes e coerentes de desenvolvimento profissional”.
Confira outros destaques da pesquisa:
Progressão da carreira
94% dos docentes concordam (68% totalmente e 26% em parte) que a progressão na carreira deve vir por meio da melhoria da prática pedagógica. Em outras palavras, esses profissionais acreditam que professores que conseguem garantir melhores condições de aprendizagem para os estudantes devem avançar mais rápido na carreira.
42% discordam (25% totalmente e 17% em parte) de que seus planos de carreira atendem suas expectativas de crescimento profissional. Hoje, em geral, professores avançam na carreira por titulação e tempo de serviço.
Para Haroldo Corrêa Rocha, coordenador-geral do Movimento Profissão Docente, os dados mostram que é grande o número de professores insatisfeitos com as próprias carreiras, que, de acordo com suas demandas, precisam ser modernizadas e atender às expectativas de ascensão profissional com oportunidades de melhorar as práticas pedagógicas.
“Um plano de carreira bem estruturado deve ser aquele que, entre outras questões, foca em habilidades e competências para aprimorar a prática docente e potencializar o desenvolvimento profissional. O projeto de carreira e o mecanismo de progressão devem ser instrumentos que caminham juntos em prol do fortalecimento da docência, que por consequência irá reverberar positivamente no processo de aprendizagem dos estudantes”, explica Haroldo.
Desafios do dia a dia e prioridades na Educação
Os professores apontam que a defasagem na aprendizagem dos alunos é um dos principais desafios da profissão atualmente (28% apontam esse como o principal desafio), o que pode ter sido agravado pela pandemia de Covid-19. Eles também citam o desinteresse dos estudantes pelas aulas (31%) e a indisciplina dos estudantes (18%), sendo esses três elementos os mais apontados pelos docentes.
E, como resposta a essas questões, ainda apontaram qual ação deveria ser priorizada pelas secretarias de Educação nos próximos anos. Dentre 10 medidas investigadas, foram quatro itens os que concentraram as escolhas desses profissionais: a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes (18%); o aumento do salário dos professores (17%); a promoção de programas de reforço e recuperação (16%) e a promoção do envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos (14%). Dessa forma, pode-se observar que as maiores urgências consideradas pelos professores têm estreita relação com os principais desafios enfrentados por eles no dia a dia.
“A implementação de programas de reforço e recomposição das aprendizagens é uma prioridade para enfrentarmos o cenário de aprofundamento das desigualdades enfatizado pelos professores. São necessárias ações estruturadas nas distintas instâncias da gestão educacional, desde as Secretarias, gestão das escolas até novas práticas pedagógicas na sala de aula para dar conta dos desafios. Também é importante fortalecer o diálogo e a articulação entre o governo federal e estados e municípios para avançar com a oferta de ensino integral e a Busca Ativa para alcançar, especialmente, os estudantes mais prejudicados com o fechamento das escolas em razão da pandemia de Covid-19”, reflete a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.
A pesquisa
Como parte da iniciativa Educação Já – agenda sistêmica que apresenta diagnósticos e propostas para o enfrentamento dos principais desafios da Educação brasileira – o Todos Pela Educação tem realizado um amplo processo de escuta com atores da comunidade escolar. Em 2022, outras pesquisas captaram as percepções de alunos e diretores de escolas públicas de todo o país. O intervalo de confiança da pesquisa com professores encomendada ao Ipec é de 95% e a margem de erro é de 1 ponto percentual para mais ou para menos sobre os resultados analisados considerando o total da amostra.
Os dados completos por Unidade da Federação podem ser consultados aqui: